- É sério?
- Não, é brincadeira, sou uma pessoa muito má e quero enganar você. É claro que é sério, podemos reunir nossas famílias, ambas estão longe de nós não é?
- É verdade. Meus pais vivem em Fortaleza, não os vejo há tempos. Eu aceito sim meu amor, tenho certeza que nossas famílias ficarão felizes com nossa união.
- Também acho.
Os pais de José Maria e Juliana vieram para o noivado e ajudaram os dois nos preparativos do casamento. José Maria fez uma poupança conjunta com Juliana e no fim de um ano tinham dinheiro para fazer uma pequena festa de casamento. José Maria se inscrevia para diversos campeonatos locais de natação para pegar prática. Tinha várias medalhas de prata, bronze e algumas de ouro. As paraolimpíadas estavam próximas e José Maria já estava dando os primeiros passos sozinho. Um dia, em casa, Juliana disse ao marido:
- Amor, você poderia se inscrever nas olimpíadas e não nas paraolimpíadas, afinal, você já está andando.
- Será mesmo? Eu ando sim, mas devagar e posso não dar conta.
- Dará sim, faltam uns seis meses, com mais treino você estará apto.
- Vamos ver.
Os dois moravam de aluguel na Vila Mariana, após o casamento José Maria mudou-se para o apartamento de Juliana porque era maior. Os seis meses passaram rápido e o mundo todo estava alvoroçado com as olimpíadas. José Maria fazia parte da equipe de natação que representaria o Brasil nas olimpíadas em Pequim, na China. O casal viajou para Pequim e ficaria lá até o final das provas de natação. José Maria disputaria a medalha de ouro nos 400 m livres e estava ansioso e preocupado.
- Ju, não consigo ficar tranqüilo.
- Não se preocupe querido, estou torcendo por você.
- A prova final será amanhã às 14h. Tem um chinês e um americano na disputa.
- Eu sei que os americanos estão ganhando muitas medalhas, mas essa vai ser sua.
- Espero.
Foram dormir cedo. No outro dia de manhã, José Maria se reuniu com o treinador e ficou horas a fio dentro da piscina. Duas horas da tarde: tudo pronto. O ginásio estava lotado, via-se o verde e o amarelo por todo lado. Na arquibancada Juliana acenava para o marido na beira da piscina. O árbitro ia dar a largada e os nadadores se posicionaram. Em Xique-Xique Dna. Cândida, Sr. Gonçalo e toda a família de José Maria estava na frente da televisão. O árbitro deu a largada e os três competidores caíram na piscina. A torcida brasileira gritava e Juliana estava apreensiva. O locutor dizia:
- O americano Paul John na raia dois está na frente, mas logo atrás dele está o baiano José Maria na raia um, que está encostando. O chinês Tsuno Nagaia está logo atrás. Parece que José Maria vai ultrapassar o americano! Como é rápido esse rapaz! O americano notou a aproximação, está tentando nadar mais rápido. José Maria está ao lado dele e ultrapassa Paul John! Vai terminar a prova o baiano de Xique-Xique.
Na arquibancada Juliana não se agüentava de aflição. E o locutor continuava:
- José Maria vai conquistar medalha de ouro para o Brasil, medalha que a natação brasileira não conseguiu ganhar nas olimpíadas de Atenas. Ele chegou! É ouro para o Brasil! A melhor marca de tempo, a quarta medalha de ouro brasileira aqui em Pequim.
Juliana pulava de alegria na arquibancada junto com os demais brasileiros e em Xique-Xique a família de José Maria chorava de emoção diante da vitória e superação do filho mais novo. José Maria saiu da piscina e jogou um beijo para a esposa que chorava. O americano Paul John ficou com a medalha de prata seguido de Tsuno Nagaia com a de bronze. José Maria subiu ao pódio feliz e recebeu a medalha que tanto sonhara conseguir.
Após as comemorações da vitória, no hotel, José Maria disse a Juliana:
-Abrirei uma escolinha de natação para deficientes físicos quando voltarmos ao Brasil.
- Ótima idéia meu amor, eu ajudarei. Principalmente agora que teremos companhia.
- Que companhia?
- Estou esperando um filho seu, estou de quatro semanas.
- Meu Deus! Vou ter um filho! É menino ou menina?
- Calma Zé, ainda não dar pra saber, mas acho que é um menino.
- Um menino? Vou ensiná-lo a nadar desde bebezinho. Que emoção, não poderia ser mais feliz!
As olimpíadas acabaram e o Brasil levou quinze medalhas de ouro, vinte e cinco de prata e dez de bronze para casa. O casal voltou ao Brasil e depois de oito meses, nasceu Tiago. José Maria com a ajuda de Juliana e com o dinheiro que recebeu pela vitória, começou sua escola de natação. José doou sua cadeira de rodas para uma instituição de caridade e ficou feliz que o filho tinha nascido sem qualquer deficiência física. Com o rabalho, José Maria adquiriu uma casa e saiu do aluguel. Continuou com os treinos de natação e participou de outras olimpíadas, ganhando outras medalhas.
Alguns anos se passaram e José Maria continuava com sua escola, ajudando àqueles que queriam ser nadadores. Um dia durante uma aula, um de seus alunos aproximou-se dele e disse:
- Professor, quero ser campeão de natação, pode me ajudar?
- Qual é seu nome? Quantos anos têm?
- Chamo-me Arthur e tenho doze anos.
- A idade do meu filho Tiago. Como ficou nessa cadeira?
- Acidente de carro. Perdi o movimento das pernas. Seu filho nada?
- Nada sim, faz aulas aqui comigo.
José Maria ficou pensativo e percebeu que a estória se repetiria. Encheu os olhos de lágrimas e disse a Arthur:
- Não se preocupe, vou fazer de você um campeão como fizeram comigo.
- Poxa, que bom! Quem ajudou o senhor?
- Uma pessoa muito especial que acreditou em mim. E virando-se, viu Juliana entrar com algumas toalhas na mão.
Eglanen Nascimento
28/07/2006