sábado, 12 de dezembro de 2009

Escritor de "mão cheia"

Um dia, peguei-me me perguntando o que sabia fazer, afinal, queria entrar para a faculdade, mas não tinha uma idéia exata do curso. Pensei que poderia fazer Jornalismo, pois, na escola, durante o ensino médio, meus professores de Português sempre elogiaram minhas redações e sempre tirei notas altas nas provas da disciplina. A partir disso, achei que sabia escrever bem, produzia vários poemas e contos e cheguei até a escrever um livro, diga-se de passagem. Mas não era só por isso que pensei em fazer esse curso, eu queria com meus textos denunciar a corrupção, mostrar a população que os políticos que nós elegemos estão aí, ganhando milhões enquanto estamos sem segurança, sem remédios e tantas outras coisas mais. Queria abrir os olhos das pessoas para as diferenças sociais. “Chocar” era o que eu sempre quis, pois quem sabe as pessoas não abririam os olhos e fariam alguma coisa por esse País e pelo resto do mundo também.

Prestei vestibular. Agora conheceria gente nova, veria coisas diferentes. Muito animado, comecei a faculdade, mas logo de cara, no primeiro semestre, não gostei muitos das disciplinas: aquele curso não era Jornalismo? Pra que Filosofia? E Sociologia então? O que é Metodologia Científica? Pra mim, a única matéria que podia se salvar era Psicologia da Comunicação. Amarrei-me no estudo do comportamento humano, nas teorias de Freud, no Behaviorismo e na Gestalt.
A coisa começou a melhorar a partir do segundo semestre, quando tive o primeiro contato com Técnicas de Reportagem e Fotografia I. Mas, se fosse só isso... “Teoria da Comunicação I”. O conteúdo era bom, o que não era nada boa era a professora, muita fechada, dava medo falar com ela. O tempo foi passando, chegou o terceiro semestre e não ia surgindo muitas novidades. No quarto semestre, a faculdade mudou de prédio, um prédio novinho e amplo. A mudança me pareceu legal e, agora, com laboratórios de rádio, tv e ilha de edição, o curso poderia ficar mais interessante.
O quarto semestre foi uma monotonia. Entrei em crise de identidade. Será que era isso mesmo? Não, não era Jornalismo. Deveria ter feito Direito, era isso. Eu tinha me enganado, não sabia escrever nada, essa era a verdade, principalmente porque o tal do “lide” me perseguia: “O que?”, “Como?”, “Onde?”, “Quem?”, “Por que?” e “Quando?” . “Tem que responder no mínimo quatro!”, era a recomendação dos professores de redação jornalística. Que tormento! Isso não era nada, a disciplina Sistemas de Informação era de matar qualquer um. O professor era gente boa, mas a matéria dele não me acrescentou nada e sempre achei que ele não ia muito com a minha cara.
Ah! O quinto semestre, desse eu gostei (mesmo não tendo saído da minha crise de identidade), as matérias eram atraentes, principalmente Ética e Radiojornalismo. Apaixonei-me por rádio, de uma hora pra outra me convenci que seria nesse veículo que iria trabalhar depois de formado, me via dentro do estúdio “interpretando” as matérias, mas meus textos nunca saiam muito bons e mesmo gostando do radiojornalismo, pensei em desistir e seguir carreira ligada à informática: webjornalismo. Meu professor de web sempre elogiou minhas matérias e um dia, no fim do semestre, disse que eu ia longe. Acreditei nele, pensei até em fazer meu produto de conclusão de curso um site de notícias, mas não levei a idéia adiante.
A partir daqui eu pensei que enlouqueceria. Meu Deus! Os trabalhos iam se multiplicando, os professores cobrando cada vez mais e meu tempo escasso, nossa! Pensei que não daria conta. (Obs.: Acredito que os professores acham que não trabalhamos, pois entopem a gente de trabalhos e ai de atrasar um dia a entrega!) Só que eu tenho que trabalhar para bancar a faculdade! Não tenho família rica, não dá pra abandonar o serviço e me dedicar totalmente à faculdade, se fosse assim, nunca terminaria o curso porque a mensalidade pode não ser a mais cara, mas que arranca o coro arranca! A partir do sétimo semestre foi pior ainda, pois tinha que estagiar (é obrigatório). E como conciliar isso com o trabalho o dia inteiro? Não é mole! E para piorar minha situação tive que começar a temível monografia! Vou falar sobre o quê? Eu não sei, são tantas coisas! É cheia de normas da tal ABNT, não pode isso, não pode aquilo! Todo mundo que me falou como foi, disse que não era fácil. Entrei em pânico! Comecei a pesquisar, a comprar livros disso, daquilo, e cheguei a um tema: “A reportagem investigativa no rádio”. A professora de rádio adorou, me disse que daria inúmeras dicas de bibliografias. Então, dei início ao TCC.
Aos trancos e barrancos conciliei os quatro: trabalho, estágio, faculdade e monografia. Estagiava de manhã, corria para o trabalho à tarde, depois rastejava para a faculdade à noite e tomava energético de madrugada. A minha crise de identidade ia e vinha e, às vezes, tinha vontade de largar a faculdade e começar algo novo e, outras vezes, refletia. Era melhor persistir porque poderia dar certo e minha opinião sobre mim poderia ser falha, afinal, eu escrevia bem na escola não escrevia?
Oitavo semestre. Enfim, concluí minha monografia, 100 páginas! Meu produto foi um programa de rádio com reportagens investigativas. Ainda bem que minha orientadora era prestativa, me deu aula desde o quinto semestre, tínhamos um relacionamento bom, ela sempre me auxiliava nas diversas dúvidas. Apresentei para a banca examinadora e minha nota foi 10, não podia ser outra, do tanto que me matei. Depois de tudo isso, estive pensando seriamente, minha crise passou e eu decidi: quando receber o diploma, daqui a uns meses, colocarei num quadro na parede da minha sala e começaria outro curso: “Estória”. Hoje, depois de tanto esforço entendo a importância da Sociologia e da Filosofia para o Jornalismo. No entanto, não vou seguir carreira jornalística, acho que “Estória” combina mais comigo!

Assinado: aspirante a “estoriador”
EN - Julho/2006

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