Um dia pela manhã, horário que normalmente sua aula de natação começava, algo diferente aconteceu. Como de costume José Maria levava uma bolsa com alguns pertences para a aula: uma touca, um par de óculos de natação e uma toalha. Porém, neste dia, esqueceu seus óculos de natação e não podia nadar sem eles, pois o cloro da água irritava seus olhos. Procurou o professor para informar o problema e sabendo que ele estava de atestado, foi procurar seu substituto. Para espanto de José Maria, o professor substituto era uma linda jovem ruiva. Logo José Maria percebeu a alvura e suavidade de sua pele e o castanho claro de seus olhos. Não imaginava como uma figura tão encantadora poderia estar ali dando aulas para deficientes físicos. Ficou encantado e apenas despertou de seus pensamentos quando a moça veio ao seu encontro.
- Olá, precisa de ajuda?
- Sim, vim procurar o professor Diogo, mas me disseram que ele está de atestado.
- Estou substituindo ele. De que necessita?
- Esqueci meus óculos de natação e não posso ficar sem eles por que tenho alergia do cloro. Você não teria algum para me emprestar?
- Ah sim, claro que tenho! Vou pegá-lo e volto num minuto.
A professora deu as costas para José Maria e ele ficou observando-a pegar na gaveta da mesa os óculos.
- Aqui estão.
- Você ficará por muito tempo?
- Ainda não sei. Diogo ficará três meses afastado. Acho que ficarei esse período com vocês.
- Qual é seu nome?
- Juliana. E o seu?
- José Maria.
- Faz natação há muito tempo aqui?
- Há uns seis meses. Tenho um grande sonho de participar das paraolimpíadas.
- Que interessante. Daqui a quatro anos serão as paraolimpíadas. Por que não se escreve?
- Que isso, preciso de muito treino. Quando participar, não quero fazer feio.
- Posso te ajudar. Sou professora de educação física e como falta um tempo podemos conseguir.
- Os olhos de José Maria brilharam. Você pode me ajudar mesmo?
- Claro! Agora vamos, pois estamos atrasados para sua primeira aula rumo as paraolimpíadas.
O coração de José Maria batia emocionado. Não acreditava que tinha uma chance, mesmo que remota, de ser nadador profissional. Sentia também que seu coração começava a bater mais forte pela professora ruiva de olhos castanhos-claros.
A aula de natação foi um sucesso e nos dias que se seguiram José Maria e Juliana se entenderam muito bem, com a ajuda dela, ele foi aos poucos aprendendo as técnicas de natação para ser um futuro profissional.
Decorridos os três meses, Diogo retornou. Chegara a hora de Juliana deixar o Centro Esportivo e José Maria sentiu que não poderia permanecer ali sem ela. Ao fim de sua última aula com ela, José Maria criou coragem e disse, quando ela virou as costas para guardar o material de natação:
- Não vá, o tempo foi curto, acredito que ainda não estou pronto, preciso de mais treino.
- Diogo poderá ajudá-lo. Além do mais, não vou me mudar, podemos continuar a termos aulas especializadas em outro horário.
- Eu adoraria. Sabe Juliana, talvez você não entenda e nem me aceite, mas me apaixonei por você.
Juliana ficou espantada e sem reação. Ela considerava José Maria muito simpático, mas não havia notado que ele nutria sentimentos por ela.
- José, não sei o que dizer, bem eu...Não sei mesmo...
- Não se preocupe, eu já esperava isso e pode ter certeza que eu entendo.
- Não, não pense assim, não sou preconceituosa, admiro você e te considero uma pessoa maravilhosa, só que me pegou desprevenida.
- Você aceita namorar comigo Juliana?
Juliana ficou pensativa. Gostava de José Maria, ele era forte e decidido e ela precisava de alguém assim ao seu lado, então disse:
- Aceito.
- Como disse? Não entendi direito, você aceita?
- Aceito, não já disse! E Juliana abaixou-se e apoiou-se nos joelhos de José Maria e o beijou longamente. Afastou-se e disse:
- Agora precisamos dar duro nas aulas. Você faz fisioterapia?
- Não, eu ajudo minha família na Bahia, não sobra muito.
- Conseguirei para você umas sessões, quem sabe não volta a andar?
- Seria incrível! Bom, tenho que ir, ainda preciso ir ao trabalho.
- Claro, poderemos nos encontrar à noite no Bar da Vila, pois moro na Vila Mariana.
- Legal. Até mais Ju, à noite nos vemos. José Maria deu um beijo em Juliana e ambos tomaram seus rumos.
O encontro da noite se passou às mil maravilhas e o romance decolou. Juliana se alternava entre as aulas na academia à tarde e as sessões de fisioterapia e as aulas de natação de José Maria. Ele escrevera para a mãe contando a novidade do namoro e Dna. Cândida ficara muito feliz pelo filho. Disse que queria em breve, conhecer a nora.
Um ano e meio já havia passado e as expectativas iam aumentando. Um dia, durante a aula de natação, José Maria chamou a atenção de Juliana.
- Amor, olha aqui uma coisa.
- O que Zé? E virou-se para olhar o namorado. Levou um susto quando viu José Maria em pé, se apoiando na cadeira de rodas. – Não acredito! E correu e abraçou José. – Eu não disse que você poderia voltar a andar!
- Eu sei. Não estou andando ainda, mas sinto que logo logo conseguirei. Parece um sonho, pois desde criança vivo nessa cadeira de rodas. Eu devo tudo isso a você amor.
Juliana com os olhos cheios de lágrimas beijou José. Ele sentou-se de novo na cadeira.
- Você quer se casar comigo?
(Continua...)
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